A definição e a função de currículo escolar é definido na
seleção, organização e sistematização dos conhecimentos historicamente
constituído e acumulado e é responsável por determinar o que os alunos deverão
aprender. Um currículo preocupado com os reais objetivos da escola, se preocupa,
também, em possibilitar acessos aos
alunos a determinados bens culturais
como literatura, artes, conhecimentos teóricos e ciência, para viabilizar situações de aprendizagens a partir
deles.
O currículo também deve estar atento à diversidade, ser
orientado para a inclusão de todos ao acesso dos bens culturais e do
conhecimento, pois hoje a diversidade é recebida na escola – ainda que de forma
inadequada e despreparada. Portanto, é necessário que o currículo atenda a todo
tipo de diversidade.
Assim, percebe-se que a elaboração do currículo está
intimamente ligada às concepções específicas de ser humano, ou seja, em sua
elaboração, o currículo é revestido de um ideal de humano, de aluno, de
trabalhador, de acordo com a pretensão que a escola tenha em seu processo de
desenvolvimento e das forças das exigências externas à escola, como a do mundo
do trabalho.
Nesse sentido, “não há currículo ingênuo, pois ele sempre
sugere uma opção, um perfil de sujeito a ser “alcançado” (PERRENOUD, 1995).
Contudo, esse perfil ideal não vem descrito ponto a ponto
nos currículos das instituições, porém, o percebe-se de acordo com as opções
teóricas que eles prescrevem e que não influencia somente na formação dos
sujeitos alunos, pois, segundo Arroyo,
O que ensinamos, como ensinamos, com que
ordem, sequência lógica e em que tempos e espaços são os condicionantes de
nossa docência, realizam-nos como profissionais ou limitam-nos e escravizam-nos
a cargas horárias, a duplicar turnos, a trabalhar com centenas de alunos por semana
[...]. Sermos fiéis ao currículo, às competências que prioriza, às precedências
e hierarquias e a toda essa engrenagem montada em nosso trabalho tem estreita
relação com os conteúdos privilegiados e selecionados, sobretudo, com as
lógicas em que estão organizados no currículo (ARROYO apud BRASIL, 2007, p.19).
Sendo assim, essa hierarquização não influencia somente a
formação da identidade que se pretende construir nos discentes, mas também condiciona
o trabalho docente.
1.1 Currículo Prescrito ou formal
Segundo Perrenoud (1995), o currículo formal controla de
certa forma, o processo educativo em determinado contexto onde ele é utilizado
como balizador das práticas pedagógicas cotidianas e da avaliação. Para ele,
[…] A cultura que deve ser concretamente
ensinada e avaliada na aula é apenas balizada pelo currículo formal.
Este apenas fornece uma trama, a partir da qual os professores devem
elaborar um tecido cerrado de noções, esquemas, informações, métodos,
códigos, regras que vão tentar transmitir.
(PERRENOUD, 1995, p. 42-43).
Sendo assim o currículo formal ou prescrito se constitui
em documentos que orientam o
desenvolvimento da educação em determinado ambiente, porém não a determina, por
exemplo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s), Projeto Político
Pedagógico (PPP), entre outros.
1.2 Currículo Real
Segundo Perrenoud (1995), currículo real é a forma como
se concretiza no dia a dia o currículo prescrito. Por mais pormenorizado que
seja, o currículo prescrito não consegue “programar” completamente tudo o que
será realizado em sala de aula.
Desta forma, cabe ao professor realizar uma manobra
interpretativa que leve em consideração tudo o que a instituição prescreve
(ainda que de forma vaga), bem como as preferências de seus alunos, suas
próprias preferências e as limitações da instituição de ensino.
Entende-se que a prática docente deve ser minuciosamente
planejada e é neste planejamento de suas aulas que o professor inicia o
currículo real. Ao arquitetar sua prática, o docente terá consciência de quais
procedimentos podem ou não ser desenvolvidos em sua turma, de acordo com a
realidade vivenciada na sala de aula.
Contudo, esse currículo não se encerra na concretização
do planejamento. Ele sofre a influência das reações e das iniciativas dos alunos,
fazendo com que o professor, às vezes, tenha que ter o seu trabalho improvisado
em sala de aula. Perrenoud (1995) afirma que:
[…] O currículo real nunca é a estrita
realização de uma intenção do professor. As actividades, o trabalho escolar dos
alunos escapa parcialmente ao seu controle, porque, no seu percurso didáctico,
nem tudo é escolhido de forma perfeitamente consciente e, sobretudo, porque as resistências
dos alunos e as eventualidades da prática pedagógica e da vida quotidiana na
aula fazem com que as actividades nunca se desenrolem
exactamente como estava previsto. (PERRENOUD,
1955, p.51)
Segundo Perrenoud (1995) nem tudo se desenrola na sala de
aula da forma que está no planejamento, pois no cotidiano da vida escolar,
ocorre certa negociação entre professor e alunos. Os alunos possuem certo
controle sobre o ritmo e a intensidade do trabalho do professor em sala e podem
negociar a sua boa vontade, fazendo com que aumente o distanciamento entre o
currículo prescrito e o real.
1.3 Currículo oculto
No cotidiano escolar ocorre uma série de situações de
aprendizagens nas quais são interiorizados conhecimentos que não estão
previstos e nem pretendidos anteriormente, ou explicitamente. A prolongada
exposição dos alunos a esse ambiente de transmissão de conhecimentos implícitos
implica que eles alcancem certos princípios de conduta, normas sociais e modos
de pensar. Essas aprendizagens, que são apreendidas no domínio do não-dito,
constituem-se nos conteúdos do currículo oculto ou escondido, como afirma
Perrenoud (1995).
O professor, por meio da sua prática pedagógica transmite saberes, valores, práticas e ideologias
que não estão prescritos no currículo formal, mas são ensinados de forma implícita.
Todavia, o currículo oculto não se manifesta somente por meio da prática do
docente, mas também “por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem
fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implícita,
para aprendizagens sociais relevantes” (SILVA, 2003, p.78).
Entre os aspectos do ambiente escolar que contribuem para
a formação do currículo oculto, CANDAU e MOREIRA destacam:
As relações hierárquicas, regras e
procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na escola, modos de
distribuir os alunos por grupamentos
e turmas, mensagens implícitas nas falas dos
(as) professores (as) e nos livros didáticos. [...] a forma como a escola
incentiva a criança a chamar a professora (tia, Fulana, Professora etc); a
maneira como arrumamos as carteiras na sala de aula (em círculo ou alinhadas);
as visões de família que ainda se encontram em certos livros didáticos
(restritas ou não à família tradicional de classe média) (CANDAU e MOREIRA,
2007, p. 18).
O fato dos elementos estarem oculto CANDAU e MOREIRA
destacam que acontecem de maneira
subliminar, ou seja, torna a força
modeladora
deste
currículo mais eficaz, pois se o que está escondido for revelado, ou seja, se a
escola tirar de suas ações as roupagens idealistas, ela deverá assumir
abertamente que prepara sujeitos para atender às necessidades da sociedade.
Referências Bibliográficas
ARROYO,
Miguel Gonzáles. Indagações sobre
currículo: educandos e educadores - seus direitos e o currículo. BEAUCHAMP,
Jeanete. PAGEL, Sandra Denise. Nascimento, Aricélia Ribeiro do (Org´s).
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
CANDAU, Vera Maria.
MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Indagações sobre currículo: currículo,
conhecimento e cultura. BEAUCHAMP, Jeanete. PAGEL, Sandra Denise.
Nascimento, Aricélia Ribeiro do (Org´s). Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2007.
PERRENOUD, Pierre. Currículo
real e trabalho escolar. In: Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar.
Porto: Porto Editora, 1995.
SILVA, Thomaz Tadeu. Documentos
de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003.
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